Imaginem vocês terem o contato
com algo nas suas vidas pela primeira vez, imaginem ainda que este contato é
altamente desconfortável, incomoda e mesmo assim vocês são obrigados a
continuar tendo este contato... Pois assim é a vida de um bebê prematuro, ele é
obrigado a passar durante todos os primeiros dias da sua vida com “coisas” desconfortáveis,
que incomodam, que são “intrusos” no seu corpinho, e assim também é com a sonda
nasogástrica. Esta sonda é um tubo de cloreto de polivinila (PVC) que, quando
prescrito pelo médico servirá para drenagem ou para alimentação. Nos primeiros
dias de vida do bebê prematuro ela é introduzida pela via oral e leva o
alimento diretamente para o estômago pois o bebê ainda muito pequenininho não
tem habilidade nem coordenação para engolir. Sem elas, os bebês prematuros não
conseguiriam se alimentar ou seja, são realmente vitais nos primeiros momentos
de sua jornada. Porém, é um corpo estranho que fica introduzido nas vias orais
do bebê, incomoda, tá lá o tempo todo, pode causar refluxos, mesmo que
imperceptíveis a quem acompanha os bebês, e tudo isto pode trazer uma
consequência num futuro não muito distante: PROBLEMAS PARA ALIMENTAÇÃO DO BEBÊ.
Toda essa manipulação (tira
sonda, bota sonda, aspira os restos dos alimentos que ainda não foram
digeridos, limpa as vias orais e nasais, etc.), é incômoda e são os primeiros
sentimentos que o bebê tem do contato com a boca. Imaginem então que ele
carregará este registro inicial durante boa parte de sua vida e isso pode ser
um dificultante a mais para realizar a alimentação do bebê. Mas por que isso? Todas
as vezes que os pais vão alimentar seu bebê, irão introduzir algo na sua boca,
e a lembrança que o bebê terá neste momento é de que algo que vá ser
introduzido na sua boquinha é ruim, pode machucar, vai ser incômodo, aí vem as
rejeições... Para o bebê, qualquer pessoa que venha colocar algo na sua boca
vai ser ruim para ele, logo, ele irá rejeitar isso. Logo a boca, que é
praticamente o caminho para as primeiras sensações que um bebê tem do mundo
(todos os bebês nos primeiros meses de vida, quando começam a conseguir a pegar
qualquer coisa primeiramente levam à boca para senti-lo).
Ou seja, se alimentar uma
criança é uma batalha constante, imaginem alimentar uma criança com essas
restrições... É duro mas, é algo que precisa ser enfrentado. Neste momento pais
comuns que não são da área médica, não devem tentar enfrentar essa batalha a
sós, contar com a ajuda de especialista na resolução destes problemas pode ser
essencial para encontrar a saída deste labirinto. É aí que entram os Fonoaudiologistas.
João, até o momento, frequenta a Dra. Fonoaudióloga dele, semanalmente ele bate
ponto lá. Durante as sessões, aprendemos muito sobre a alimentação (mastigação,
deglutição, etc.) destes bebês. São dicas que nos deixam mais seguros de como
agir (e continuar agindo) na criação de nossos filhos.
João hoje não é especialista
em comer, em geral, dar a comidinha dele (a não ser que seja o leitinho dele, o
famoso gagau), é sempre um projeto de engenharia complicado. Vai desde
a elaboração do projeto (pensar no que será utilizado para chamar sua atenção),
passando para execução do projeto (palhaçada daqui, canta dali, dança na frente
dele, planta bananeira, ...) até a comemoração quando o objetivo é atingido e
ele come tudo. Aos pouquinhos, ele vai comendo voluntariamente coisas que são
dadas na sua mão, pedaços de pão, bolachas, torradas, etc. O grande problema
de João é que ele não tem “a manha” de ter algo sólido na boca. O que qualquer pessoa faz quando tem algo sólido na boca é colocar para os
lados da boca empurrando com a língua, mastigar e engolir. Quando algo sólido entra na boca de João, caso
não seja pastoso (pois o pastoso ele simplesmente engole), fica sobre a língua dele "sambando" até o ponto dele enguiar e vomitar
tudo, nem cospe nem engole. Uma dica que a Dra. Fono nos deu foi, ao colocar o alimento na boca dele, um pedaço
de qualquer coisa, empurrar diretamente para o lado da sua boca, isso já ajuda
ele a fazer o primeiro passo da alimentação para depois sim, ele mastigar e engolir. Uma outra dica é fazer o bebê sentir texturas diferentes, tocar coisas quentinhas, frias, áspero, liso, poroso, o tato tem uma ligação direta com a boca e ajuda ao bebê se acostumar com "corpos estranhos" introduzidos por outros na sua boquinha. E está dando certo... É
um processo lento, que requer muita paciência, perseverança e acima de tudo,
força para continuar sempre, e sempre com pensamento maior que ao final, essa será mais
uma barreira vencida na vida destes pequenos grandes batalhadores.
E como sempre, para terminar,
segue uma foto deste “malandrinho” traquino num dia de muita praia, sol, muitas bebês
de “fralda dental” (quando crescerem será o fio) e muito surfe....
Daqui a pouco João estará comendo super bem.. É uma questão de tempo!! :-)
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