domingo, 22 de julho de 2012

Paizinho- ALIMENTAÇÃO

A alimentação é um capítulo a parte na vida das crianças, e no caso dos bebês prematuros um capítulo um pouco mais longo. A tal da sonda nasogástrica que os bebês carregam durante praticamente toda a estadia na UTI Neonatal é vital para a sobrevivência deles porém, pode deixar suas sequelas...

Imaginem vocês terem o contato com algo nas suas vidas pela primeira vez, imaginem ainda que este contato é altamente desconfortável, incomoda e mesmo assim vocês são obrigados a continuar tendo este contato... Pois assim é a vida de um bebê prematuro, ele é obrigado a passar durante todos os primeiros dias da sua vida com “coisas” desconfortáveis, que incomodam, que são “intrusos” no seu corpinho, e assim também é com a sonda nasogástrica. Esta sonda é um tubo de cloreto de polivinila (PVC) que, quando prescrito pelo médico servirá para drenagem ou para alimentação. Nos primeiros dias de vida do bebê prematuro ela é introduzida pela via oral e leva o alimento diretamente para o estômago pois o bebê ainda muito pequenininho não tem habilidade nem coordenação para engolir. Sem elas, os bebês prematuros não conseguiriam se alimentar ou seja, são realmente vitais nos primeiros momentos de sua jornada. Porém, é um corpo estranho que fica introduzido nas vias orais do bebê, incomoda, tá lá o tempo todo, pode causar refluxos, mesmo que imperceptíveis a quem acompanha os bebês, e tudo isto pode trazer uma consequência num futuro não muito distante: PROBLEMAS PARA ALIMENTAÇÃO DO BEBÊ.

Toda essa manipulação (tira sonda, bota sonda, aspira os restos dos alimentos que ainda não foram digeridos, limpa as vias orais e nasais, etc.), é incômoda e são os primeiros sentimentos que o bebê tem do contato com a boca. Imaginem então que ele carregará este registro inicial durante boa parte de sua vida e isso pode ser um dificultante a mais para realizar a alimentação do bebê. Mas por que isso? Todas as vezes que os pais vão alimentar seu bebê, irão introduzir algo na sua boca, e a lembrança que o bebê terá neste momento é de que algo que vá ser introduzido na sua boquinha é ruim, pode machucar, vai ser incômodo, aí vem as rejeições... Para o bebê, qualquer pessoa que venha colocar algo na sua boca vai ser ruim para ele, logo, ele irá rejeitar isso. Logo a boca, que é praticamente o caminho para as primeiras sensações que um bebê tem do mundo (todos os bebês nos primeiros meses de vida, quando começam a conseguir a pegar qualquer coisa primeiramente levam à boca para senti-lo).

Ou seja, se alimentar uma criança é uma batalha constante, imaginem alimentar uma criança com essas restrições... É duro mas, é algo que precisa ser enfrentado. Neste momento pais comuns que não são da área médica, não devem tentar enfrentar essa batalha a sós, contar com a ajuda de especialista na resolução destes problemas pode ser essencial para encontrar a saída deste labirinto. É aí que entram os Fonoaudiologistas. João, até o momento, frequenta a Dra. Fonoaudióloga dele, semanalmente ele bate ponto lá. Durante as sessões, aprendemos muito sobre a alimentação (mastigação, deglutição, etc.) destes bebês. São dicas que nos deixam mais seguros de como agir (e continuar agindo) na criação de nossos filhos.

João hoje não é especialista em comer, em geral, dar a comidinha dele (a não ser que seja o leitinho dele, o famoso gagau), é sempre um projeto de engenharia complicado. Vai desde a elaboração do projeto (pensar no que será utilizado para chamar sua atenção), passando para execução do projeto (palhaçada daqui, canta dali, dança na frente dele, planta bananeira, ...) até a comemoração quando o objetivo é atingido e ele come tudo. Aos pouquinhos, ele vai comendo voluntariamente coisas que são dadas na sua mão, pedaços de pão, bolachas, torradas, etc. O grande problema de João é que ele não tem “a manha” de ter algo sólido na boca. O que qualquer pessoa faz quando tem algo sólido na boca é colocar para os lados da boca empurrando com a língua, mastigar e engolir. Quando algo sólido entra na boca de João, caso não seja pastoso (pois o pastoso ele simplesmente engole), fica sobre a língua dele "sambando" até o ponto dele  enguiar e vomitar tudo, nem cospe nem engole. Uma dica que a Dra. Fono nos deu foi, ao colocar o alimento na boca dele, um pedaço de qualquer coisa, empurrar diretamente para o lado da sua boca, isso já ajuda ele a fazer o primeiro passo da alimentação para depois sim, ele mastigar e engolir. Uma outra dica é fazer o bebê sentir texturas diferentes, tocar coisas quentinhas, frias, áspero, liso, poroso, o tato tem uma ligação direta com a boca e ajuda ao bebê se acostumar com "corpos estranhos" introduzidos por outros na sua boquinha. E está dando certo... É um processo lento, que requer muita paciência, perseverança e acima de tudo, força para continuar sempre, e sempre com pensamento maior que ao final, essa será mais uma barreira vencida na vida destes pequenos grandes batalhadores.

E como sempre, para terminar, segue uma foto deste “malandrinho” traquino num dia de muita praia, sol, muitas bebês de “fralda dental” (quando crescerem será o fio) e muito surfe....


Um comentário:

  1. Daqui a pouco João estará comendo super bem.. É uma questão de tempo!! :-)

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